21.7.11

"Mas aquilo? Aquilo acaba sim. Acaba numa noite de chuva e frio que você, subitamente, descobre que sim seria bom estar com ele, mas que você pode sobreviver sem ele à intempérie. Aquilo acaba, quando você vai ao cinema, ou à festa da Flávia e do Moa sozinha, e não morre.
Acaba como acaba o frio na barriga. Aquilo acaba, impreterivelmente, na saúde e na doença. Na riqueza e na pobreza. Acaba quando a irmã dele fala mal de você, e ele não move um músculo para defendê-la.
Aquilo, que não é amor, mas não chega a ser paixão, aquilo que faz com que você sonhe acordada e rabisque o nome dele no canhoto dos seus cheques, acaba junto com a burocracia, as reuniões de condomínio. Aquilo acaba com a chegada do cara da manutenção do computador. Acaba com os telefonemas que ele atende falando baixo e longe de você. Aquilo, meu bem, acaba.
A vida, ela mesma, acaba."


Fal Azevedo